“A oportunidade de reunir a família Silva Oliveira era única. Feriadão até terça-feira, 4 dias de folga para todos os filhos irem para Guarujá, com netos, noras e agregados. Surgiu a ideia de levar a matriarca, dona Izabel. Ela bem que precisava de um descanso, uma pausa no cansativo trabalho diuturno de cuidar de seu Agenor, nosso personagem principal. Deu para reparar que o avô é portador de Alzheimer. Já faz 5 anos e está na fase intermediária. Conhece bem os filhos e as noras, mas não sabe mais o nome de nenhum neto. Às vezes, fica difícil segurar sua impaciência de querer tudo para agora e de nunca lembrar que não almoçou ou que não comeu seu lanche. Está sempre com fome. Outro problema: não larga do pé de dona Izabel. E o Guarujá? Continuando a história, é claro que o seu Agenor também iria…
Uma semana antes, o rebuliço era geral. Todos falavam no passeio e isso estava deixando seu Agenor mais agitado e ansioso. Até que chegou o sábado de manhã e tudo já estava pronto. Era só descer de São Paulo para o Guarujá e quanto mais cedo melhor, pois o trânsito na estrada ficaria infernal, sem falar na fila da balsa. Na hora de sair, advinha quem não queira ir mais? Agenor!
“Não vou e a Izabel também não vai. Não quero ninguém perto de mim! Cês pode viajar e me deixa quieto!”
Raulino, o filho mais velho, com muito tato e psicologia conseguiu convencer o pai de ir com todos. O argumento: o filho levaria o pai para ver o seu Santos, no centro de treinamento do clube. Lá estaria o Pelé e os craques todos. Convencido, o pai aceita e os carros descem a serra. Praia cheia, sol quente, muita gente, fila pra tudo, carrões com sons de funks ensurdecedores, tudo era previsível e dava pra tolerar e aproveitar o feriadão. Mas ninguém estava mais aguentando os pedidos insistentes de seu Agenor para voltar para São Paulo.
O filho ainda argumentou: “Pai, nós vamos amanhã ver o time do Santos, na Vila Belmiro. Aguenta mais um pouco!”
Agenor sossegava umas duas horas e depois, como se não tivesse combinado nada para ver o time do Santos, bradava: “Izabel, vamos embora para casa…”
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Na fase inicial e no começo da fase intermediária, viajar com idoso portador de Alzheimer pode ser uma situação comum, para a maioria das famílias. À medida que a doença avança, as famílias encontrarão cada vez mais dificuldades em sair de férias ou realizar viagens, até mesmo corriqueiras e rápidas.
- Nunca fale para o portador sobre o passeio ou a viagem que fará, com muita antecedência. Não o deixe ansioso e confuso em relação ao dia do evento. Procure falar somente na véspera ou algumas horas antes.
- Nunca faça viagens longas e cansativas. Lembre-se de que sair da rotina da casa pode ser danoso para o idoso portador.
- Esta dica é para a família: nunca pense que viajar com o idoso portador seja realmente férias. Talvez tenha muito mais trabalho e viajar seja até mais cansativo que cuidar em casa. Se a família quiser realmente descansar e passear, considere não levar o idoso junto, deixando-o aos cuidados de outros familiares (todos precisam ajudar!), deixando-o com cuidadores de confiança em sua própria casa ou deixando-o, pelo tempo da viagem, em uma casa de repouso de bom padrão.
- Tenha sempre em mente um plano B. Se o idoso ficar confuso e agitado, durante o passeio ou viagem, cancele o plano inicial e volte com o idoso para casa. Isso pode ser feito pelo cuidador familiar principal, por outro familiar escalado para tal função ou pelo cuidador responsável pelo idoso.
- Levar um cuidador profissional do mesmo sexo que o idoso pode ser de grande ajuda, principalmente se os familiares forem só do sexo oposto. Exemplo: filhas que levam o pai na viagem. Imaginem se o idoso precisar ir ao banheiro de um avião, de um ônibus ou um banheiro público?
- Nunca se esquecer de levar a receita com todos os medicamentos, ter sempre o cartão de saúde do convênio e, de antemão, saber os locais de serviços médicos de emergência, caso o idoso necessite.
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Fonte: http://www.cuidardeidosos.com.br/viajando-com-alzheimer/