quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Coisas que nunca se deve dizer a uma pessoa idosa com incontinência

A incontinência urinária tem efeito devastador sobre a qualidade de vida da pessoa idosa, sendo sinal claro e importante de que a saúde não vai nada bem! Também traz consequências muito sérias para quem cuida, pois aumenta demais o trabalho de cuidar e é fonte de muito estresse.
Como sempre orientamos, antes de achar ruim com a pessoa idosa, ralhar com ela, procure entender e tentar resolver a causa da incontinência com seu médico. Ou pelo menos minimizar seus efeitos. De uma coisa temos certeza: chamar atenção ou punir o idoso só piora tudo, vai deixar o cuidador mais estressado e a pessoa idosa mais triste (não é sua culpa!)
Abaixo, daremos alguns exemplos de situações e comportamento de cuidadores que só PIORAM esta situação:

1. “Eu estou ficando doente e cansada de tanto limpar você. Daqui pra frente, vai usar só fraldas.”(Você só vai fazer a pessoa idosa ficar constrangida e na defensiva.)
Dica de como se comunicar: “Estou vendo que você teve outra vez problema com a urina, nesta noite. Acho que é hora de consultar nosso médico e ver o que está acontecendo.”. (Reconheça que é um problema médico geriátrico.)

2. “Porque você não pode controlar a sua urina?” (Eles não podem. Se pudessem, eles não teriam incontinência!)
Dica de como se comunicar: “Eu sei que isso incomoda. Mas não se preocupe, nós vamos descobrir o que há de errado e como melhorar isto.” (Procure mostrar que compreende e que quer ajudar.)

3. “Você está fazendo isso para me irritar?” (Não, não é proposital.)
Dica de como se comunicar: “Você tem vergonha de ter incontinência? Não fique assim, eu ouvi dizer que há muitos tipos de incontinência e, para muitos casos, podem ter tratamento e melhora”. (Não deixe um problema de saúde se tornar um problema emocional.)

4. “Chega! Líquidos a partir de agora é só na parte da manhã. Não quero ter trabalho no final da tarde e de noite!” (As pessoas idosas precisam de uma hidratação adequada. Restringir líquidos só vai piorar o estado geral da pessoa idosa.)
Dica de como se comunicar: “Claro, paizinho ou mãezinha, pode tomar sua água à vontade! Não é isso que esta fazendo você perder urina. Vamos ver o que o médico pensa.” (Ser solidário, em vez de controlar.)



5. Eu não posso levar você a lugar nenhum. Eu não vou aproveitar nada e você vai urinar na roupa!” (Você pode sair com o idoso, sim. Com a preparação adequada, por exemplo colocação de fraldas ( fraldas podem ter muitos outros nomes, tais como calcinha higiênica ou cueca para incontinência), usar o banheiro logo antes de sair e evitar, nessa ocasião, a ingestão de muito líquido antes de sair.)
Dica de como se comunicar: “Eu sei que é difícil a gente sair e não ficar preocupado com sua urina. Por isso, comprei esta calcinha mais forrada, que vai evitar que sua urina vaze. Você não quer parar de viver só por causa disso, né?” (Mostre que existem soluções.)

6. “Não tem mais jeito. A senhora, o senhor terá de usar fraldas pro resto da vida!” (Muitos problemas com incontinência são reversíveis e tem tratamento.  Mas se não tiver, porque ficar mostrando só o lado negativo e colocando a pessoa idosa mais pra baixo ainda.)
Dica de como se comunicar: “Por enquanto, vovô ou vovó, a gente vai te proteger desta perda de urina com as fraldas, até ter uma solução melhor. ” (Não minta, seja realista, mas com postura positiva e sempre buscando melhores soluções. A pessoa idosa irá ficar mais calma e segura de que sua incontinência não é o fim do mundo.)


“Matéria publicada no site: www.cuidardeidosos.com.br”

“O idoso também precisa ter oportunidades: para viver, amar, ser amado e envelhecer com qualidade de vida, independente de estar passando por um processo de envelhecimento bem sucedido ou patológico.”

Respeito é um direito e dever de todo ser humano, independente de sua idade, sexo, raça, crença religiosa e condição sócio-econômica. Como já ouvi dizer, é respeitando que se é respeitado”, e acho isto uma grande verdade. Como seres humanos, somos iguais, mas ao mesmo tempo diferentes. Iguais por sermos da mesma espécie, carregarmos constituição genética semelhante, sermos Filhos de um mesmo Pai, como pregam várias religiões. Somos diferentes na personalidade, na aparência física, nos gostos, nas preferências e nas atitudes. A criança, o adolescente, o adulto e o idoso precisam ser respeitados como indivíduos e em suas particularidades. Dedico aqui atenção especial ao idoso, que muitas vezes é vítima de desrespeito, negligência, omissão, ou mesmo violência física e/ou psicológica. Respeitar é aceitar, acolher, amar e querer bem.
Falamos que o idoso precisa envelhecer com dignidade, mas devemos ir além: todos nós precisamos viver e envelhecer com dignidade. Falar em envelhecimento é referir-se aos idosos de hoje e nos colocarmos no lugar de idosos num futuro a curto, médio ou longo prazo. Viver com dignidade é ter sua condição de ser humano respeitada, com qualidade de vida e sem constrangimentos (uso esta palavra num sentido bem amplo, já que muitos ainda enxergam a velhice como caduquice e vergonha em relação ao corpo, à mente e aos pensamentos envelhecidos). Envelhecer com dignidade é ter respeitada a sabedoria que pode ser adquirida com os anos de experiência de vida.
O idoso também precisa ter oportunidades: para viver, amar, ser amado e envelhecer com qualidade de vida, independente de estar passando por um processo de envelhecimento bem sucedido ou patológico. E quem pode oferecer estas oportunidades ao idoso? Todos nós: a sociedade em geral, que respeita e insere o idoso em seu meio, a família que cuida integralmente do idoso e faz esforços por sua qualidade de vida e, principalmente, devemos cobrar das autoridades a concessão destas oportunidades. Para envelhecer bem o idoso precisa de políticas públicas de saúde voltadas para a prevenção, a promoção e a reabilitação da saúde específicas para esta faixa etária; precisa ter segurança, acesso à educação, sempre que desejar. Necessita de uma Previdência que lhe garanta condições para um envelhecimento de qualidade. Enfim, o idoso precisa que lhe concedam uma série de oportunidades que, na realidade, já seriam dele por direito.
Por isto o nosso incessante apelo, daqui do Cuidar de Idosos para que lutemos pelos direitos dos nossos idosos e pelos nossos próprios direitos daqui a uns anos.

“Luciene C. Miranda – Artigo apresentado e publicado no Encontro da Memória no VI Congresso Brasileiro de Alzheimer”