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“Mamãe ainda não estava totalmente dependente após cirurgia de extração de um tumor. A previsão de sobrevida era de mais ou menos 8 meses. Achei então que, no primeiro momento, o mais importante seria dar a ela um modo de vida que não alterasse muito seu espaço. Assim, descartei a ideia de contratar uma enfermeira, pois acreditei que alguém que cuidasse dela, e também da casa (mamãe até ali só tinha uma faxineira), seria mais interessante, não ficando muito marcado o “fator doença”.
Procurei alguém que tivesse uma índole boa e fosse prestativa. Soube de uma senhora, empregada doméstica, que, quando a ex-patroa ficava doente, ela se oferecia para trazer ervas, remédios caseiros, não achando ruim deixar outros afazeres e prestar esses serviços. Pensei: é essa a pessoa que procuro. Enquanto minha mãe viveu, Tereza realmente revelou ser uma cuidadora. Cuidou da casa e da minha mãe com igual zelo. Foi carinhosa, extremamente paciente e tinha a consciência de que cuidava de uma pessoa idosa, que tinha lá suas manhas. Estava sempre disposta e tentava agradar a todos. Foi firme quando necessário, não deixando de ser respeitosa. Se fosse preciso dar um remédio ou mesmo uma refeição e ouvia um “não quero”, vencia com muito jeito a questão.
Não levava para o lado pessoal quando ouvia coisas desagradáveis de minha mãe, dizendo que não era por mal e que a doença é que era ingrata, tirava o bom humor. Era muito positiva e procurava omitir os fatos ruins, tanto da sua vida pessoal quanto das notícias de jornal que lia para mamãe. Gostava de contar sua história e as novelas que eram escutadas com prazer.
Alertei-a para não tratar minha mãe como criança nem mimá-la demais, e que, enquanto ela pudesse andar, comer, tomar banho e pentear-se sozinha, deveria ser estimulada. Prontamente entendeu e procurou ajudá-la a ser mais independente. Não impunha regras, acatava-as, e isso era muito bom porque passava a impressão de que a autoridade ali era mamãe, e esta se sentia valorizada e importante.
Tereza era muito pontual com os horários de remédios e refeições e mostrava boa vontade em atender as visitas. Conhecia regras básicas de higiene e tratava com a sabedoria das pessoas simples. Não se incomodava quando passávamos para ela formas adequadas de tratamento de coisas que desconhecia. Seguia o prescrito, não inventava. Tinha personalidade, mas não era altiva, e eu percebia que se enternecia com o sofrimento, tendo gestos de carinho, como afagar os cabelos quando minha mãe não estava bem.
Minha mãe permaneceu lúcida até o fim. Percebi, na sua agonia, o apego que tinha por Tereza, e esta ficou com ela todo o tempo, trocando, limpando, reanimando. Como eu não fiquei com ela 24 horas, não posso afirmar que não houve momentos de tensão entre elas. Mas creio que, se existiram, não foram relevantes, não desabonando a idéia que tivemos dela.”
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Citado por Tomiko Born e extraído de: http://portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php/revistaportal/article/viewFile/201/224
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