terça-feira, 6 de novembro de 2012

Viajando com Alzheimer

 

“A oportunidade de reunir a família Silva Oliveira era única. Feriadão até terça-feira, 4 dias de folga para todos os filhos irem para Guarujá, com netos, noras e agregados. Surgiu a ideia de levar a matriarca, dona Izabel. Ela bem que precisava de um descanso, uma pausa no cansativo trabalho diuturno de cuidar de seu Agenor, nosso personagem principal. Deu para reparar que o avô é portador de Alzheimer. Já faz 5 anos e está na fase intermediária. Conhece bem os filhos e as noras, mas não sabe mais o nome de nenhum neto. Às vezes, fica difícil segurar sua impaciência de querer tudo para agora e de nunca lembrar que não almoçou ou que não comeu seu lanche. Está sempre com fome. Outro problema: não larga do pé de dona Izabel. E o Guarujá? Continuando a história, é claro que o seu Agenor também iria…
Uma semana antes, o rebuliço era geral. Todos falavam no passeio e isso estava deixando seu Agenor mais agitado e ansioso. Até que chegou o sábado de manhã e tudo já estava pronto. Era só descer de São Paulo para o Guarujá e quanto mais cedo melhor, pois o trânsito na estrada ficaria infernal, sem falar na fila da balsa. Na hora de sair, advinha quem não queira ir mais? Agenor!
“Não vou e a Izabel também não vai. Não quero ninguém perto de mim! Cês pode viajar e me deixa quieto!”
Raulino, o filho mais velho, com muito tato e psicologia conseguiu convencer o pai de ir com todos. O argumento: o filho levaria o pai para ver o seu Santos, no centro de treinamento do clube. Lá estaria o Pelé e os craques todos. Convencido, o pai aceita e os carros descem a serra. Praia cheia, sol quente, muita gente, fila pra tudo, carrões com sons de funks ensurdecedores, tudo era previsível e dava pra tolerar e aproveitar o feriadão. Mas ninguém estava mais aguentando os pedidos insistentes de seu Agenor para voltar para São Paulo.
O filho ainda argumentou: “Pai, nós vamos amanhã ver o time do Santos, na Vila Belmiro. Aguenta mais um pouco!”
Agenor sossegava umas duas horas e depois, como se não tivesse combinado nada para ver o time do Santos, bradava: “Izabel, vamos embora para casa…”
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Na fase inicial e no começo da fase intermediária, viajar com idoso portador de Alzheimer pode ser uma situação comum, para a maioria das famílias. À medida que a doença avança, as famílias encontrarão cada vez mais dificuldades em sair de férias ou realizar viagens, até mesmo corriqueiras e rápidas.
  • Nunca fale para o portador sobre o passeio ou a viagem que fará, com muita antecedência. Não o deixe ansioso e confuso em relação ao dia do evento. Procure falar somente na véspera ou algumas horas antes.
  • Nunca faça viagens longas e cansativas. Lembre-se de que sair da rotina da casa pode ser danoso para o idoso portador.
  • Esta dica é para a família: nunca pense que viajar com o idoso portador seja realmente férias. Talvez tenha muito mais trabalho e viajar seja até mais cansativo que cuidar em casa. Se a família quiser realmente descansar e passear, considere não levar o idoso junto, deixando-o aos cuidados de outros familiares (todos precisam ajudar!), deixando-o com cuidadores de confiança em sua própria casa ou deixando-o, pelo tempo da viagem, em uma casa de repouso de bom padrão.
  • Tenha sempre em mente um plano B. Se o idoso ficar confuso e agitado, durante o passeio ou viagem, cancele o plano inicial e volte com o idoso para casa. Isso pode ser feito pelo cuidador familiar principal, por outro familiar escalado para tal função ou pelo cuidador responsável pelo idoso.
  • Levar um cuidador profissional do mesmo sexo que o idoso pode ser de grande ajuda, principalmente se os familiares forem só do sexo oposto. Exemplo: filhas que levam o pai na viagem. Imaginem se o idoso precisar ir ao banheiro de um avião, de um ônibus ou um banheiro público?
  • Nunca se esquecer de levar a receita com todos os medicamentos, ter sempre o cartão de saúde do convênio e, de antemão, saber os locais de serviços médicos de emergência, caso o idoso necessite.
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Fonte: http://www.cuidardeidosos.com.br/viajando-com-alzheimer/

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Dia Mundial da doença de Alzheimer

21 de Setembro Dia Mundial da doença de Alzheimer!
Uma lição de cumplicidade!
 
A memória musical é talvez a última e derradeira memória que a pessoa idosa com Alzheimer irá perder. O idoso poderá esquecer-se de tudo, mas lembrará das músicas que fizeram parte de sua vida, mesmo numa fase mais avançada de Alzheimer. Este post é uma homenagem a todos que lutam bravamente para amenizar o peso da doença de Alzheimer no seio familiar.

“Toda família tem uma história pessoal para contar, memórias de toda uma vida para preservar. Em especial, AS FAMÍLIAS QUE CONVIVEM COM ALZHEIMER!”

Veja o emocionante clipe de David Michael Mainelli:
http://static.ak.fbcdn.net/rsrc.php/v1/y2/r/5l8_EVv_jyW.swf?v=10151095060671234&ev=0
 
 

 
  I WILL REMEMBER FOR YOU
  "Oh the places you used to go,
All the people you used to know,
The stories that you loved to tell
About a life that you lived so well.

It’s fine, you can rest if you want to.
I will remember for you,
I will remember too."

Tradução:
EU VOU LEMBRAR PARA VOCÊ
Todos os lugares que você visitou,
todas as pessoas que você conheceu,
as histórias que você gostava de contar,
sobre uma vida que você viveu tão bem!

Tudo bem, você pode descansar se quiser.
Eu vou lembrar para você
e me lembrarei também.
 
 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Testamento de um Idoso

Extraído do livro: “Doença de Alzheimer – Vivências e Cuidados” – Lílian Alicke – gerontóloga e ex-presidente da Associação Brasileira de Alzheimer


     Junto com meu testamento, no qual lego a meus filhos e amigos a minha vontade de viver e meu amor a Deus e a toda a criação, faço um pedido: se, por ventura, no meu cérebro a senilidade penetrar sorrateiramente, a demência se infiltrar inesperadamente e o esquecimento, a falta de lucidez e a confusão se intalarem, por favor, lembrem-se que:

. eventualmente, ainda tenho uma vaga idéia de minha identidade;
. gosto de ser chamada pelo meu nome, aquele que meus pais me deram;
. posso ainda saber onde estou e com quem estou;
. posso estar gostando ou não de onde estou e com quem estou;
. faço ainda questão de usar aquele tipo de sapato que toda a minha vida usei;
. gosto ainda de usar a roupa ao estilo que sempre preferi;
. a roupa dos outros colocada em mim me entristece;
. a falta de atenção em me ajudar na higiene pessoal me traz ansiedade;
. a comida de um estilo que não conheço não me apetece;
. as fraldas que vez em quando me incomodam e me deixam envergonhada;
. gostaria, às vezes, de caminhar para espairecer e ver a natureza;
. receber uma palavrinha me faz lembrar que sou gente;
. receber visitas me diz que ainda pertence;
. receber um abraço e um beijo me diz que alguém ainda tem afeto por mim;
. a falta de sono não é proposital, nem intencional;
. a falta de interesse está além do meu controle;
. minha falta de jeito é inexplicável para mim mesma;
. o esquecimento me deixa traumatizada;
. tenho dores que às vezes não posso contar;
. nem sempre o que me fazem fazer é o que eu gostaria de estar fazendo;
. meu olhar vago não reflete o que sinto;
. e se não dou um abraço é porque os meus braços não me obedecem mais;
. se não dou um beijo é porque meus lábios não sabem mais o que fazer;
. se não te digo que valorizo sua dedicação e seu amor é porque a ponte se partiu e perdi o caminho que me levaria a compartilhar meus sentimentos com você.

Ass.: Um ser humano que envelhece

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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

De empregada doméstica à cuidadora de idosos – depoimento

http://www.google.com.br/imgres?um=1&hl=pt-

“Mamãe ainda não estava totalmente dependente após cirurgia de extração de um tumor. A previsão de sobrevida era de mais ou menos 8 meses. Achei então que, no primeiro momento, o mais importante seria dar a ela um modo de vida que não alterasse muito seu espaço. Assim, descartei a ideia de contratar uma enfermeira, pois acreditei que alguém que cuidasse dela, e também da casa (mamãe até ali só tinha uma faxineira), seria mais interessante, não ficando muito marcado o “fator doença”.

Procurei alguém que tivesse uma índole boa e fosse prestativa. Soube de uma senhora, empregada doméstica, que, quando a ex-patroa ficava doente, ela se oferecia para trazer ervas, remédios caseiros, não achando ruim deixar outros afazeres e prestar esses serviços. Pensei: é essa a pessoa que procuro. Enquanto minha mãe viveu, Tereza realmente revelou ser uma cuidadora. Cuidou da casa e da minha mãe com igual zelo. Foi carinhosa, extremamente paciente e tinha a consciência de que cuidava de uma pessoa idosa, que tinha lá suas manhas. Estava sempre disposta e tentava agradar a todos. Foi firme quando necessário, não deixando de ser respeitosa. Se fosse preciso dar um remédio ou mesmo uma refeição e ouvia um “não quero”, vencia com muito jeito a questão.

Não levava para o lado pessoal quando ouvia coisas desagradáveis de minha mãe, dizendo que não era por mal e que a doença é que era ingrata, tirava o bom humor. Era muito positiva e procurava omitir os fatos ruins, tanto da sua vida pessoal quanto das notícias de jornal que lia para mamãe. Gostava de contar sua história e as novelas que eram escutadas com prazer.

Alertei-a para não tratar minha mãe como criança nem mimá-la demais, e que, enquanto ela pudesse andar, comer, tomar banho e pentear-se sozinha, deveria ser estimulada. Prontamente entendeu e procurou ajudá-la a ser mais independente. Não impunha regras, acatava-as, e isso era muito bom porque passava a impressão de que a autoridade ali era mamãe, e esta se sentia valorizada e importante.
Tereza era muito pontual com os horários de remédios e refeições e mostrava boa vontade em atender as visitas. Conhecia regras básicas de higiene e tratava com a sabedoria das pessoas simples. Não se incomodava quando passávamos para ela formas adequadas de tratamento de coisas que desconhecia. Seguia o prescrito, não inventava. Tinha personalidade, mas não era altiva, e eu percebia que se enternecia com o sofrimento, tendo gestos de carinho, como afagar os cabelos quando minha mãe não estava bem.

Minha mãe permaneceu lúcida até o fim. Percebi, na sua agonia, o apego que tinha por Tereza, e esta ficou com ela todo o tempo, trocando, limpando, reanimando. Como eu não fiquei com ela 24 horas, não posso afirmar que não houve momentos de tensão entre elas. Mas creio que, se existiram, não foram relevantes, não desabonando a idéia que tivemos dela.”


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Citado por Tomiko Born e extraído de: http://portaldoenvelhecimento.org.br/revista/index.php/revistaportal/article/viewFile/201/224

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Mãe, querida mamãe!

 
 
    "Estava aqui, tropeçando num monte de palavras, me engasgando com um turbilhão de sentimentos, perdida em meu mundinho de lembranças, saudades e pensando no próximo 2º domingo de maio – o famoso e tradicional (comercial) “dia das mães” quando, de repente, ouço aquele ‘psiu!’!
No limiar da porta, vejo então uma cabecinha toda branca espichando-se para chamar minha atenção e, olha só: aí está você, no agora de hoje vivendo o seu dia – linda, alegre e faceira dentro do meu dia-a-dia! Meu coração se enternece e corro para mais um dos nossos frequentes abraços de todo dia!
Há pouco, uma vaga nostalgia me levava para longe daqui, evocando lembranças, buscando aquela mulher que sempre acompanhou cada passo da minha vida. Mas onde poderia eu encontrá-la senão aqui, neste momento de agora em que a mulher que sou abraça e beija com ternura esta mulher que você continua a ser?!
 
    Não importa se você lembra ou não do meu nome ou do parentesco que existe entre nós! Tudo o que importa é esse sorriso largo que ilumina o seu rosto quando me vê e essa sensação confiante, prazerosa, que podemos partilhar no calor do nosso abraço!
Ah mãe! Quantas experiências de vida, trilhando juntas! Fases boas, fases difíceis, momentos felizes, momentos tristes… Minhas enfermidades – seus cuidados e preocupações. As birras da criança versus a mãe autoritária. As inconsequências adolescentes versus a mãe vigilante! E aquela jovem adulta, empinando o nariz e fugindo das suas críticas decorrentes do inevitável confronto de personalidades e gerações diferentes!? O meu jeito de ser e o seu jeito de ser, ora gerando harmonia, ora gerando atritos.
 
    Esses percalços naturais da caminhada pela vida, aqueles em que as relações se estremecem até mesmo quando nós filhos já somos adultos, não merecem relevância para serem pontuados como entraves para o amor e o carinho que lhe dedicamos. Tudo vivido, tudo passado e tantas novas experiências ainda nos esperando para viver!
 
    E no seu lento caminhar, o vazio da sua memória vai me ensinando mais uma lição: despojar-me das bagagens do passado para sentir, com leveza, as surpresas do agora! Cada dia, um novo dia e cada momento sempre único e irrecuperável – sem passado e sem futuro, só comportando o presente desse agora tão cheio de oportunidades para ser vivido da melhor forma possível!
 
    Creio que o Mal de Alzheimer traz em si essa profunda mensagem: numa mínima fração de segundo cabe toda uma vida e o tempo, com toda a sua carga de lembranças… bem, essa contagem que dele fazemos e o excesso de peso pelas lembranças que carregamos em nossa memória, é apenas um recurso humano para não nos desorientarmos enquanto transitamos no espaço.
Percebo, mãezinha, que a vida nos presenteou com a bênção de ver você e papai envelhecerem juntos trilhando os caminhos do bem viver. Sinto-me especialmente privilegiada pela oportunidade de ter acompanhado meu pai até o momento final e de agora poder continuar contando com a sua companhia. Isto nada tem a ver com obrigação, nem com reparação de sentimentos de culpa ou mesmo com gratidão, mas tem tudo a ver com amor, aprendizado e fortalecimento espiritual!
 
    Repito aqui os versos finais de um poema que escrevi para vocês dois, intitulado ‘Tempo Mestre’: 
 
"...Tempo chegou / e eu envelhecendo…/ Nas rugas do rosto, /
tempo marcando / as trilhas do caminho / que no tempo percorri… /
Abençoado tempo! / flashes de momentos / que contam uma história /
escondida na memória / esquecida do que vivi… /
Tempo pai! / Tempo mãe! / Eis o meu tempo /
chegando de mansinho / trazendo o que se vai /
 e ensinando-me a partir…"
 
    Assim, tudo que hoje sei é que muito mais preciso aprender e que cada fração de segundo traz um leque de oportunidades para descobrir, exercitar e ampliar os limites dessa bagagem indispensável que precisamos ter sempre à mão para seguir com mais leveza a jornada de nossas vidas tais como: paciência, tolerância, aceitação e desapego.
 
    E seguindo a trilha do poema “VIDA” de Mário Quintana, quero aproveitar cada oportunidade desses tempos para ir “jogando fora a casca dourada e inútil das horas” enquanto ainda tenho tempo para dizer olhando em seus olhos que “você é extremamente importante para mim” e o quanto eu te amo! Meu grande beijo para você, minha mãe!
 
    E àqueles que ainda podem beijar suas mães, eu peço: não percam tempo, aproveitem para todo dia beijá-las tanto quanto puderem!!!
 
Por: Gracinha Medeiros
 
 
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