Quedas de idosos já
são caso de saúde pública no Brasil
Entre uma série de doenças que passaram
a acometer o brasileiro com mais frequências nas últimas três décadas, com o
aumento da expectativa de vida no país, um problema que ainda passa despercebido
começa a chamar a atenção dos médicos: o número impressionante de idosos que
são vítimas de quedas, e também o grande número de óbitos decorrentes dos
problemas de saúde causados ou agravados pelos acidentes.
Em 2010, cerca de 363 mil brasileiros,
de todas as idades, deram entrada em hospitais para tratar de ferimentos
decorrentes desses acidentes. Em 12 anos (de 1998 a 2010), foram 4 milhões de
internações. Desse total, quase a metade envolveu pessoas com mais de 60 anos.
Desde que o Sistema Único de Saúde passou a contabilizar os dados sobre quedas,
através do Data-SUS, em 1998, o número de internações tem aumentado em torno de
5% ao ano.
Mulheres,
principalmente as de pele clara, precisam se prevenir mais
As mulheres são as
grandes vítimas de quedas, e por consequência, das mortes decorrentes das
fraturas. Isso porque são mais propensas a sofrer osteoporose - após a
menopausa, os ossos perdem mais cálcio, já que os hormônios sexuais, que ajudam
na absorção, diminuem na circulação -, e também porque elas são maioria entre
os idosos (em média, vivem mais do que os homens). As que possuem pele e olhos
claros são ainda mais vulneráveis, pois pessoas com tal biotipo têm ossos mais
frágeis e mais dificuldades para absorver o cálcio. Neste caso, os médicos
insistem que só caminhar não ajuda. É preciso exercitar os músculos, pois esses
ajudam a proteger os ossos. Após a menopausa, perde-se 1% da massa muscular
(fenômeno chamado de sarcopenia) a cada ano, o que exige trabalho muscular,
sempre prescrito por um médico com o auxílio de um educador físico (VFP).
Cuidados
Veja como evitar as
quedas em casa e no dia a dia:
• Evite usar tapetes
que causem escorregões ou enrosquem nos pés
• Mantenha o piso
seco
• Coloque
antiderrapantes no piso e nas escadas. Prefira sapatos de solados aderentes
• Instale barras de
segurança no banheiro para se apoiar enquanto usa o chuveiro ou vaso sanitário
• Não permita que
animais fiquem no caminho
• Compre camas não
muito baixas (que exijam a flexão do joelho acima de 90º para se sentar e
levantar) nem muito altas
• Deixe luzes de
segurança acesas e evite se movimentar no escuro
• Consuma alimentos
ricos em cálcio e vitamina D, como leite, frutas e hortaliças
• Tome sol para fixar
a vitamina D na pele
• Pratique
exercícios. Para fortalecer e evitar a perda de massa muscular, faça
musculação. Músculos fortes protegem o osso da osteoporose. Para melhorar o
equilíbrio, faça pilates, tai-chi-chuan ou yoga
• Faça exames
rotineiros para checar como está a hipertensão, o colesterol e a osteoporose,
caso você tenha essas doenças, e tome os medicamentos receitados pelo médico
• Se necessitar de
bengala ou andador, não hesite em usá-los
Fontes: Mark Deeke (Hospital Marcelino Champagnat) e Renato Raad (Hospital Nossa
Senhora das Graças).
Causas
Entre a população mais jovem, caso de
crianças, as quedas se dão por acidentes em casa, majoritariamente; dentre os
adultos, por acidentes de trabalho ou na prática de esportes. Entre os idosos,
o crescimento se dá à medida que o brasileiro envelhece – a terceira idade já
representa 12% da população – e passa a ser acometido por doenças como
osteoporose (perda de massa óssea), falta de equilíbrio, musculação fraca,
articulações enrijecidas e baixa visão. Com isso vêm as fraturas, muitas vezes
fatais.
De acordo com o ortopedista do Hospital
Marcelino Champagnat Mark Deeke, esse é um fenômeno observado em vários países
desenvolvidos, onde começam a ser feitas campanhas maciças de prevenção para
diminuir os custos humanos e financeiros das quedas. “É um caso de saúde
pública, que exige conscientização. Uma queda de um trabalhador de um telhado é
algo grave, claro, mas é diferente, pois ele pode se recuperar. Com o idoso é
diferente, pois o próprio envelhecimento consome a capacidade de recuperação.”
Entre as consequências mais delicadas
estão as fraturas de quadril, que, embora respondam por 20% das fraturas, são
responsáveis por 99% das mortes. “Após os 80 anos, 30% vão a óbito no primeiro
ano, e o restante, até cinco anos após a queda que gerou a fratura”, explica o
ortopedista do Hospital Nossa Senhora das Graças em Curitiba Renato Raad. As
quedas nessa parte do corpo são, infelizmente, tão comuns, que se costuma
dizer, no meio médico, “que viemos ao mundo pelo colo do útero e iremos embora
dele pelo colo do fêmur”, afirma Raad.
Não é a queda que mata
Diferentemente do que se possa
imaginar, não é a queda propriamente dita que causa o óbito do idoso – isso
ocorre apenas em casos mais graves, quando há traumatismo craniano ou grande
hemorragia, como na fratura da pelve. Os riscos são as doenças que surgem ou se
agravam quando uma pessoa sofre uma fratura e fica muito tempo acamada, sem se
movimentar. De acordo com o Ministério da Saúde, as quedas são responsáveis por
70% das mortes acidentais de pessoas com mais de 75 anos, e representam a sexta
causa de óbito na terceira idade.
O ortopedista Renato Raad explica que,
a partir dos 60 anos, o idoso costuma apresentar doenças que surgem com o
passar dos anos, como diabete, sobrepeso, pressão alta, arritimia cardíaca,
problemas nos rins e pulmões. Com a imobilização, essas doenças tendem a se
agravar, já que o corpo fica debilitado, a alimentação piora, os músculos não
trabalham e atrofiam.
“Se a pessoa fica com a perna
imobilizada, o sangue não passa pela região e é comum haver a formação de
trombos que, se não tratados, podem chegar ao pulmão e causar embolia
pulmonar”, diz Raad. Por isso, é recomendado que, caso seja necessário, o idoso
seja operado o mais rápido possível quando sofre uma fratura.
“O recomendado é que não demore mais de
48 horas. Além de aliviar a dor do paciente, que é grande, o objetivo é evitar
complicações típicas de um corpo imobilizado, como tromboses e pneumonias”,
afirma o ortopedista Mark Deeke.
Publicado por VANESSA FOGAÇA PRATEANO E PATRÍCIA PEREIRA (Jornal
Gazeta do Povo).