Como cuidadora de idosos há algum tempo, procuro sempre dar o melhor de mim nas minhas atividades diárias, aperfeiçoando o meu atendimento, tratando o idoso com carinho e atenção e, claro, muita compreensão.
No trabalho mais recente que tive, eu ficava na residência da família durante a noite. Ou seja, eu acompanhava o “sono” do idoso. Ele tinha 87 anos, estava consciente, mas apresentava sintomas de Alzheimer, portanto precisava do acompanhamento de um cuidador no dia a dia. Eu precisei fazer um planejamento das atividades para me organizar e ter controle da situação. Foi difícil, mas fui conquistado meu espaço na casa e o respeito, a admiração e a confiança de todos.
Minhas atividades em relação ao idoso eram: dar a medicação nos horários certinhos, alimentá-lo, fazer a sua higiene pessoal e acompanhá-lo às consultas médicas. De fato ele não era totalmente dependente de uma cuidadora, tinha capacidade para exercer algumas atividades sozinho. Ele era educado e inteligente, mas com algumas manias adquiridas com a idade – que era avançada.
O que ele tinha de mais adorável eram as palavras. Depois de ter vivido tanto, o paciente contava as suas experiências de forma belíssima, e eu aprendia com elas. Seu único defeito era a teimosia. E também não gostava de tomar banho; aliás, o problema com o banho não era porque gostava de ficar sujo, e sim para fazer economia de luz. Com o tempo fui administrando essa questão, com muita paciência e conversa, até o impasse ser resolvido. Para mim foi uma vitória. Os amigos e vizinhos do paciente sempre o elogiavam que ele estava asseado, cheiroso, com barba feita, cabelo penteado.
Guardei muitas lembranças da convivência com este paciente. Dentre tantas que vivemos juntos, destaco uma história deliciosa, uma mistura de engraçada e constrangedora. Estávamos no primeiro dia do mês, o tal dia de receber a aposentadoria. Era uma manhã de sol, um dia bonito, ele quis ir comigo ao banco - todo arrumado, roupas limpas, cabelo penteado, barba feita.
O banco ficava a somente três quarteirões da casa, mas ele caminhava com certo grau de dificuldade, lentamente, o que fazia o percurso parecer mais longo. Quando chegamos à agência, exatamente no centro do grande salão, aconteceu o que não podia acontecer: a calça caiu! Ele ficou parado, sem saber o que fazer. O idoso vestia uma cueca samba-canção e, claro, ficou envergonhado com a situação mais do que embaraçosa. Ele arregalou os olhos para mim, e eu disse: “Calma, não se mexe porque pode o senhor tropeçar e cair.” Eu estava levantando suas calças quando uma senhora de meia idade se ofereceu para ajudar e disse: “Essas coisas acontecem...”
“É verdade”, confirmou o idoso, com muita calma. Nós agradecemos, fizemos o que precisávamos fazer no banco e fomos embora. De fato, o cinto da calça não estava corretamente fechado. É uma coisa que eu sempre verifico , mas nesse dia... me distraí! Ufa! Ainda bem que era o tal dia de receber a aposentadoria, dia feliz, e não levei bronca...
Ivete Bonislawski
Cuidadora da Life Angels