A minha história aconteceu há seis anos. E foi tão especial, que me lembro dela quase todos os dias.
Eu fui contratada para cuidar de uma senhora chamada Nora, que tinha fraturado o fêmur. Ela precisava de meus cuidados porque morava em Teresópolis, e os filhos, no Rio de Janeiro. Além disso, a dona Nora apresentava alguns sinais de confusão mental, apesar de ter os momentos de lucidez.
Depois do período obrigatório de repouso absoluto, foi indicado o uso da bengala. Até aí estava indo tudo bem. Mas como a paciente era muito carente, e tinha imensa dificuldade de expressar seus sentimentos, as complicações começaram. Dona Nora não se convencia de que precisava do novo apoio.
Tudo indicava que a situação se agravaria: a paciente não dava sinais que se acostumaria à bengala. Mas então veio a surpresa positiva: dona Nora não só começou a usar, como resolveu os problemas para se relacionar com as pessoas. A bengala ganhou vida, personalidade e até nome: Filomena, que logo se tornou Filó. Afinal, nós éramos íntimas.
Desta forma, quando a idosa tinha vontade de sair para passear, ou de apenas ficar em casa, atribuía a vontade da Filó. Era ela quem mandava. E por vezes, quando a dona Nora me dava algumas bengaladas (nada sério) ela colocava a Filó de castigo... a culpa era da bengala, claro, e não dela!
Ficamos assim, eu, dona Nora e a Filó, convivendo por três anos. Hoje já não moro mais em Teresópolis, mas mantemos contato freqüente. O bom é que, aquela dona Nora, toda durona, me liga perguntando quando é que eu vou visitar a Filó!
Só recentemente descobri a importância do nome Filó para a minha paciente: Filomena era como se chamava a avó de dona Nora, por quem ela foi criada.
Por Denise S. Arantes
cuidadora Life Angels unidade Rio de Janeiro
Esta história ficou em primeiro lugar no concurso
promovido pela Life Angels em Outubro 2011
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