É difícil cuidar de uma pessoa por algum tempo e não se afeiçoar. Isso aconteceu comigo algumas vezes – e com um paciente em especial. A despedida foi difícil.
Mas a cena se passou de forma tão marcante, que hoje é lembrada com bom humor e muito carinho.
Em 2004 cuidei de um paciente de 77 anos, dentro da semi-UTI de um famoso hospital de São Paulo. Foram exatamente dois anos e meio de tratamento. A relação – até com a família do idoso – que no começo foi difícil – ficou tranqüila e cada vez mais agradável ao longo do tempo. A ponto de a família visitar o paciente só nos finais de semana, rapidamente.
Na minha folga o idoso tinha até febre alta, tamanha falta que sentia da minha presença. Desta forma eu ficava até quinze dias sem folga. A amizade entre mim e o paciente cresceu a ponto de ele fingir que estava dormindo quando os parentes – principalmente a mulher dele – o visitavam. Depois disso, o paciente ria para mim, como quem diz: “Enganamos eles”.
Quando o meu paciente faleceu, eu só chorava. Aí vem a parte engraçada, em meio a uma cena triste. Muitas pessoas influentes foram ao velório. A mulher dele estava muito maquiada, com cabelo arrumado e cheio de laquê. Os óculos escuros chamavam a atenção.
Eu? Eu estava bem do lado do caixão, passando a mão na testa do meu paciente e me acabando de chorar. A cena foi tão marcante que até o neurologista do idoso – que havia me indicado à família, para fazer o trabalho - se aproximou de mim e disse para eu parar. Eu estava chorando mais do que todos - inclusive a esposa. Conclusão: depois disso eu e a colega que cobria as minhas folgas demos muita risada - foi hilário! Ficávamos imaginando a cena.
Até hoje sinto muitas saudades desse paciente. E a amizade com a família dele continua. Nem o fato de eu ter chorado mais do que a viúva atrapalhou.
Monica Betty Rottner,
cuidadora Life Angels São Paulo.
Esta história ficou em terceiro lugar, no
concurso promovido pela Life Angels, em Outubro 2011
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